PORTUCÁLIA

Maio 13 2013

CASO EXTRAORDINÁRIO - 13/05/2013 07h00

TAMANHO DO TEXTO

A trajetória do primeiro índio formado em medicina pela UnB

Ao chegar a Brasília há sete anos, Josinaldo da Silva tinha apenas R$ 900 de mesada da Funai e um currículo escolar tão pobre quanto o bolso

FLÁVIA TAVARES

CAPÍTULO 1
DE COCAR NO DIA DA FORMATURA


Josinaldo da Silva esperava com ansiedade sua vez de receber o pedaço de papel que coroaria sete anos de sua vida. Mal enxergava a família, que, após deixar Petrolina, em Pernambuco, e voar 1.550 quilômetros, acomodara-se discretamente no fundo do auditório do Quartel-General do Exército, em Brasília. Seus olhos divisavam apenas quem, nas primeiras fileiras, lhe entregaria o canudo em instantes. Quando o mestre de cerimônias pronunciou seu nome, Josinaldo viu o pajé Álvaro Tukano soerguer-se, orgulhoso. Carregava nas mãos um enorme cocar de penas de gavião, similar ao que ostentava na própria cabeça. Aproximou-se de Josinaldo, tirou-lhe o capelo, substituiu-o pelo cocar, pôs as mãos no ombro do pupilo e – súbito – encostou sua testa na dele. Josinaldo ficou sem reação: não esperava esse gesto. Nem o que aconteceria depois. A plateia e os outros 39 formandos ficaram de pé para aplaudir o primeiro índio formado em medicina pela Universidade de Brasília (UnB).

A noite de 1º de fevereiro deste ano encerrou a improvável jornada que começara em 18 de abril de 2006, quando Josinaldo, da etnia aticum, chegara a Brasília. Chegara graças a seus esforços e a uma parceria entre a UnB e a Funai, pela qual ele obtivera sua vaga na UnB. Josinaldo vivia, com os cerca de 5 mil índios aticuns, na Serra do Umã, sertão de Pernambuco. Ao chegar a Brasília, tinha apenas R$ 900 de mesada da Funai e um currículo escolar tão pobre quanto o bolso. Mal conseguira um teto, já tinha de vestir o jaleco branco. Começara as aulas com a disciplina mais temida pelos novatos: anatomia. “Levaram a gente para uma sala com cadáveres, foi a primeira vez que vi, um choque. Entrar num ambiente cheio de corpos é para saber se você quer mesmo estar ali”, diz.

DIPLOMADO Josinaldo da Silva no Posto de Saúde de Santa Maria. “Quando soube que passei no vestibular, demorei a acreditar” (Foto: Celso Junior/ÉPOCA)

Josinaldo se sentia estrangeiro em Brasília. Pela primeira vez, sentiu o que é ser diferente dos outros. Não conseguia fazer amizades. A solidão lhe doía. Nos primeiros meses de aula, tinha apenas um amigo: Jânio, da etnia baré, do Amazonas, também estudante de medicina. Os dois dividiam um quartinho e as angústias. A família de Jânio, porém, estava com muitos problemas – a mãe doente, o pai alcoólatra. A pressão foi grande para que ele voltasse à aldeia. Jânio voltou. Um mês depois, matou-se. “Foi como perder um irmão. A gente conviveu pouco tempo, mas intensamente”, diz Josinaldo.

>> “Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui” 

>> Sobrenome: “Guarani Kaiowa” 

No primeiro semestre, Josinaldo foi reprovado em duas matérias. E depois em mais uma. Quando pensou em desistir das aulas de imunologia, difíceis demais, foi motivado a continuar pelos companheiros. “Fiz poucos amigos na universidade, mas os que fiz foram de verdade”, diz. Foram eles que bancaram os dois primeiros estetoscópios de Josinaldo – os equipamentos custavam R$ 150 cada um, uma pequena fortuna para ele. E o ajudavam quando o dinheiro da Funai atrasava. “A hombridade dele sempre me impressionou. Ele é reservado, mas fala de suas raízes com orgulho e nunca deixa de cumprir um compromisso”, diz Felipe Machado, um dos amigos da faculdade.

>> O sertanista que passou 42 anos protegendo os índios 

Josinaldo é um dos cinco indígenas formados até aqui na UnB pela parceria firmada em 2004 com a Funai. Hoje, há 63 alunos indígenas na universidade. São estudantes de 31 etnias diferentes, distribuídos em cursos como administração, sociologia e agronomia. O convênio não é exatamente uma cota, como no caso dos alunos negros. Desde 2006, a UnB cria dez vagas por semestre exclusivamente para os índios. Os alunos que entram pela cota de negros ocupam 20% das vagas já existentes nos cursos. No quinto semestre, a solidão dos tempos de calouro deu lugar ao reconhecimento orgulhoso da identidade. Josinaldo e os demais índios da UnB dançavam pelos corredores da universidade, em manifestações “contra o preconceito”.

CAPÍTULO 2
DE COCAR NO RITUAL DA ALDEIA

A dança que Josinaldo fazia no campus, sem camisa, de calça jeans e cocar, andando em círculos e batendo o pé no chão, chama-se toré. É a mesma que praticava quando era criança. Josinaldo adorava participar do ritual que acontecia a cada 15 dias. Era o escape de sua rotina de roça. Terceiro de seis irmãos, ele mal conheceu o pai, que os abandonou e, anos mais tarde, foi assassinado numa briga. Com 6 anos, já ajudava a mãe a capinar as plantações de mandioca, milho, abóbora e feijão. Nos dois meses do ano em que chovia, o trabalho era diário. A família largava a casinha de pau a pique da aldeia sem saneamento para subir a serra. Lá, Josinaldo se instalava com a mãe e os irmãos numa palhoça, dormindo no chão. Também colhia algodão nas fazendas da região. Estudar não era prioridade. Mas Josinaldo queria tanto aprender que dava um jeito de recuperar as aulas perdidas na única escola da aldeia, que só chegava à 4ª série. Quando terminou, em 1989, queria continuar estudando. Refez o ano três vezes. “Virei pós-doutor em 4ª série”, diz Josinaldo, rindo.

>> IBGE registra crescimento de 205% na população indígena do país 

Em 1995, surgiu a oportunidade: construiu-se uma escola de 5ª a 8ª série no quilombo Conceição das Crioulas, vizinho ao povoado de Mulungu. A história das seis negras libertas que fundaram o quilombo, no comecinho do século XIX, se mescla com a dos aticuns – e a herança está no rosto mestiço de Josinaldo. Ele percorria todo dia, de jumento ou bicicleta, rodeado de outras crianças, os 6 quilômetros até o quilombo. Para fazer o ensino médio, o caminho era mais longo, de ônibus: 48 quilômetros até a cidade de Salgueiro. Depois de estudar e ainda ajudar a mãe na roça, Josinaldo se reunia com os familiares. A aldeia não tinha luz. Eles acendiam uma fogueira e ouviam os mais velhos contar histórias.

Já crescido, Josinaldo começou a trabalhar como agente de saúde, cuidando de sua aldeia. “A gente sabia que era ruim, mas, indo de casa em casa, é que vi”, diz. O chão batido dos casebres sem esgoto, sem comida, inundados durante os meses de chuva... Josinaldo conta que visitou uma mãe que amamentava um bebê e notou que as costelinhas do menino estavam à mostra, marcadas na pele fina. “Aquilo foi o que mais me doeu. Foi quando comecei a sonhar em ser médico. Era a utopia da utopia.”

>> Raoni: "Pode ser que nos matem, mas vou com meus guerreiros impedir Belo Monte" 

Em 2005, Josinaldo soube do convênio entre a Funai e a UnB. Fez o vestibular no ano seguinte.“O pessoal da Funai ligou para dizer que eu havia passado. Achei que era trote. Demorei a acreditar.” Com cinco mudas de roupa, meia dúzia de livros e o aval de seu povo, que recomendou seu nome para a Funai, Josinaldo partiu para Brasília. Foram sete anos até o jaleco branco com o bordado no bolso: “Dr. Josinaldo Silva”.

>> Outras histórias da seção Caso Extraordinário

CAPÍTULO 3
DE JALECO BRANCO NO POSTO DE SAÚDE

Numa tarde escaldante de março, a salinha do Posto de Saúde do distrito de Santa Maria, em Flores de Goiás, a 210 quilômetros de Brasília, está cheia. Dona Orica, de 59 anos, está ansiosa por ser atendida, depois de meses em que o posto ficou sem médico, pelo doutor novo que chegou na semana anterior. Josinaldo sai da sala com uma prancheta nas mãos e chama dona Orica. Depois outro, e outro... Atende sem parar, das 7 às 16 horas. No fim do expediente, dorme num quartinho minúsculo no fundo do próprio posto. Josinaldo está lá por causa do Provab, programa do governo federal que oferece R$ 8 mil de salário a médicos recém-formados que topem trabalhar nesses rincões sem estrutura. Ele ficará em Santa Maria por um ano. Depois, seguirá para Planaltina, na periferia de Brasília, para fazer a residência de dois anos em medicina de família, área que escolheu.

>> Uma tragédia indígena 

Josinaldo se sente na obrigação de voltar daqui a três anos para sua aldeia, para retribuir a confiança que seu povo lhe deu. O convênio da Funai com a UnB não prevê oficialmente a contrapartida da volta – ela é firmada entre o índio e as lideranças de suas aldeias. A aldeia Mulungu de hoje é bem diferente da aldeia Mulungu da infância de Josinaldo. A luz chegou em 2001, todo mundo tem televisão e celular, e as famílias agora constroem fossas sépticas com a ajuda do governo. Josinaldo também mudou. Comprou um carro e arrumou uma namorada, estudante de psicologia. Sua família não vive mais lá. Partiram para ganhar a vida em outras cidades de Pernambuco e em São Paulo. “Saí de lá com um propósito. Teve um povo que disse para eu vir. Quero voltar, me sinto nessa dívida”, diz Josinaldo. “Espero que daqui a três anos eu continue pensando isso.” 

publicado por portucalia às 15:38

Maio 13 2013
Por que é que nós, os homens, nos entristecemos?”
Bem-aventurada és tu porque acreditaste, diz Isabel à nossa Mãe. – A união com Deus, a vida sobrenatural, comporta sempre a prática atraente das virtudes humanas: Maria leva a alegria ao lar de sua prima, porque “leva” Cristo. (Sulco, 566)


Não concedamos o menor crédito aos que apresentam a virtude da humildade como apoucamento humano ou como uma condenação perpétua à tristeza. Sentir-se barro, recomposto com grampos, é fonte contínua de alegria; significa reconhecer-se pouca coisa diante de Deus: criança, filho. E há maior alegria que a de quem, sabendo-se pobre e fraco, se sabe também filho de Deus? Por que é que nós, os homens, nos entristecemos? Porque a vida na terra não se desenvolve como nós pessoalmente esperávamos, porque surgem obstáculos que impedem ou dificultam que levemos a cabo o que pretendemos.

Nada disto acontece quando a alma vive a realidade sobrenatural da sua filiação divina. Se Deus está por nós, quem contra nós?(Rom 8, 31) Que estejam tristes os que se empenham em não reconhecer-se filhos de Deus, venho repetindo desde sempre. (Amigos de Deus, 108) [Topo] 

       http://www.opusdei.org.br/art.php?p=15521

publicado por portucalia às 15:00

Maio 13 2013

EVANGELHO QUOTIDIANO

"Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna". João 6, 68


Segunda-feira, dia 13 de Maio de 2013

Nossa Senhora de Fátima


Festa da Igreja : Nossa Senhora dos Desamparados
Santo do dia : S. Pedro Regalado, religioso, +1456 

Ver comentário em baixo, ou carregando aqui 
São : «Todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está no Céu, esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe» 

Livro do Apocalipse 21,1-5a.

Eu, õão, vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. 
E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. 
E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: «Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. 
Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» 
O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.» E acrescentou: «Escreve, porque estas palavras são dignas de fé e verdadeiras.» 


Evangelho segundo S. Mateus 12,46-50.

Naquele tempo, enquanto Jesus estava a falar à multidão, apareceram sua mãe e seus irmãos, que, do lado de fora, procuravam falar-lhe. 
Disse-lhe alguém: «A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar-te.» 
Jesus respondeu ao que lhe falara: «Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?» 
E, indicando com a mão os discípulos, acrescentou: «Aí estão minha mãe e meus irmãos;
pois, todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.» 



Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org 



Comentário do dia:: 

São (Padre) Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho 
GC, 21; AdFP,563; GC, 24 (a partir da trad. Une Pensée, Médiaspaul 1991, p. 50) 

«Todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está no Céu, esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe»

Maria, a Mãe de Jesus, sabia bem que a Redenção se faria através da morte de seu Filho; e, no entanto, também Ela chorou e sofreu, e quanto!


Se o Senhor Se vos manifestar, dai-Lhe graças; e se Ele Se esconder, fazei o mesmo; tudo isso é um jogo de amor. Que a Virgem Maria, na sua bondade, continue a alcançar-vos da parte do Senhor a graça de suportar sem vacilar as numerosas provas de amor que Ele vos dá. Desejo que chegueis ao ponto de morrer com Ele na cruz e que com Ele possais gritar: «Tudo está consumado». 


Que Maria transforme em alegria todos os sofrimentos da tua vida.



publicado por portucalia às 15:00

PORTUCÁLIA é um blog que demonstra para os nossos irmãos portugueses como o governo brasileiro é corrupto. Não se iludam com o sr. Lula.Textos literários e até poesia serão buscados em vários autores.
mais sobre mim
Maio 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9

14
17

25

26
29
31


pesquisar
 
subscrever feeds
blogs SAPO