27 de outubro de 2012 • 08h00
O teleférico completa neste sábado seu centenário de existência, mantendo-se como um dos lugares mais visitados do Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel/Terra
Se no início era visto com desconfiança e seu projeto tratado como chacota, cem anos depois não dá para imaginar a paisagem do Rio de Janeiro sem ele. Com mais de 40 milhões de pessoas transportadas, o Bondinho do Pão de Açúcar completa, neste sábado, seu centenário de existência, mantendo-se como um dos lugares mais visitados da Cidade Maravilhosa e uma das principais referências turísticas do Rio.
Com capacidade para transportar até 65 pessoas por viagem, em um percurso que leva em torno de 3 minutos em cada trecho, o bondinho chega a transportar uma média de 6 mil pessoas por dia na alta temporada. Nos períodos de menor movimento, a circulação fica em torno de 2 mil pessoas por dia. Em 2 de janeiro de 2010, 9.849 pessoas utilizaram o transporte. Foi o recorde de movimentação do bondinho, em um só dia, na história centenária do veículo.
Dos passageiros transportados, 53% são brasileiros, com os 47% restantes cabendo aos estrangeiros que passam pelo Rio. Visitantes como o advogado carioca Francisco Pessanha, que levou a família para passear no bondinho na manhã da última sexta-feira. Acompanhado da mulher, dois filhos e três sobrinhos, o morador do bairro do Flamengo, na zona sul da cidade, contou que gosta de usufruir da vista que o Pão de Açúcar proporciona, mesmo estando acostumado com o cenário carioca. "Já tinha vindo outras vezes, e trouxe meus filhos pequenos para conhecer. Sempre é um ótimo passeio", afirmou.
Para andar no bondinho, um adulto precisa desembolsar R$ 53. Crianças de 6 a 12 anos pagam R$ 26. Menores de 6 anos têm entrada grátis. Pessoas com mais de 60 anos, portadores de deficiência física e menores de 21 anos têm direito a meia-entrada.
Ao chegar no alto dos morros, os usuários do bondinho têm, além da magnífica vista do Rio de Janeiro, especialmente da Baía de Guanabara, opções de bares, restaurantes e lazer. Ainda há a Praça dos Bondes, espaço inaugurado em 2009, onde bondinhos utilizados em outras épocas são expostos ao público junto com esculturas de bronze do idealizador do teleférico, Augusto Ferreira Ramos.
"Nestas muitas décadas vividas e passeios realizados, algo permaneceu inalterado: a vontade das pessoas que não medem esforços para tornar este sonho realidade, diariamente. Hoje, ninguém consegue imaginar o cenário da Cidade Maravilhosa sem os tão famosos Bondinhos do Pão de Açúcar. Trabalhamos num dos lugares mais lindos do mundo, em prol da nossa cidade e do nosso país e assim continuaremos por mais 100 anos", observa a diretora-geral do Bondinho Pão de Açúcar, Maria Ercilia Leite de Castro.
Neste sábado, para marcar a data festiva, serão distribuídas 2 mil fatias de bolo aos visitantes do Bondinho. Na bilheteria, a cada 100 pessoas que entrarem, será ofertada uma lembrança pelo centenário do transporte para o Pão de Açúcar. No domingo, será aberta, no local, a exposição "Bondinho 100 anos". A mostra irá até 31 de março de 2013 e apresentará um panorama das transformações ocorridas no Rio de Janeiro no período de 1908 até hoje. Contemplará, também, a história do Bondinho, desde o centenário da Abertura dos Portos no Brasil, passando por curiosidades e eventos do Morro da Urca.
A exposição será a primeira de muitas comemorações. Em janeiro, para homenagear a instalação do segundo trecho do Bondinho (ligando o Morro da Urca ao Pão de Açúcar) realizada em 1913, acontecerá um grande show com diversas atrações.
Descrença marcou projeto do Bondinho
O teleférico foi inaugurado no dia 27 de outubro de 1912. Na época, era um projeto pra lá de ousado. Tratava-se apenas do terceiro do tipo construído no mundo. O bondinho foi idealizado pelo engenheiro Augusto Ferreira Ramos, e teve as obras iniciadas em 1910, em meio a um clima de zombaria e incredulidade. Quase ninguém acreditava na viabilidade do projeto, e Ramos foi visto como um autêntico lunático. Com sarcasmo, colegas dele do Clube de Engenharia sugeriram que a linha do teleférico ligasse o Pão de Açúcar diretamente ao hospício nacional.
A obra consumiu 4 t de materiais, que, em boa parte, eram transportadas por 400 homens por meio de sucessivas escaladas no morro, formado há mais de 500 milhões de anos, e de onde Estácio de Sá, fundador do Rio, lançou as bases para a formação da cidade, em 1565. Os equipamentos do sistema do teleférico foram importados da Alemanha. O primeiro modelo, feito de madeira, lembrava um dos bondes que circulavam pela cidade. Daí, veio o apelido "bondinho".
Depois de mais de dois anos de obras, o primeiro trecho do teleférico, com 538 m de extensão, foi inaugurado, ligado a Praia vermelha ao Morro da Urca. Para fazer o passeio, era preciso desembolsar 2 mil réis. Na época, cada viagem levava até 22 pessoas, e o percurso demorava 6 minutos. A segunda linha, entre o Morro da Urca e o Pão de Açúcar, foi lançada um pouco depois, em 18 de janeiro de 1913, com 749 m de extensão.
De 1909, data de criação da empresa, a 1934, Augusto Ramos dirigiu a Companhia Caminho Aéreo do Pão de Açúcar, responsável pela operação e manutenção do bondinho. Posteriormente, assumiu Carlos Pinto Monteiro, que pegou um período conturbado, no qual o bondinho chegou a ser alvejado por tiros, trocados no levante de militares ligados ao comunismo contra o governo Getúlio Vargas, que teve como cenário o 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, próximo à estação do teleférico.
Foi no início dos anos 70 que o bonde passou pelo primeiro projeto de modernização, com a instalação de novas estações e a compra de novos veículos. Depois de dois anos de obras, os bondes foram trocados, em 1972, por novos modelos, mais amplos e totalmente transparentes, que permitiam que o usuário pudesse ver o lado de fora de qualquer ponto do teleférico. O modelo, com algumas adequações, permanece sendo usado até hoje.
De 007 a Einstein, famosos sempre marcaram presença no Bondinho
Um dos mais famosos cartões-postais do Rio serviu de cenário até mesmo para o mais famoso espião do mundo do cinema. O Bondinho do Pão de Açúcar serviu de pano de fundo do filme 007 Contra o Foguete da Morte, no qual o agente secreto, interpretado na época por Roger Moore, enfrentou o vilão Dentes de Aço. Recentemente, o último filme da saga Harry Potter foi lançado lá, com presença do ator Tom Felton.
Além do 007, celebridades da vida real também sempre bateram ponto por lá. Entre elas, o físico Albert Einstein, o ex-presidente do Estados Unidos John Kennedy, o cantor Sting e a atriz americana Brooke Shields.
No fim dos anos 70, o Morro da Urca passou a receber shows de diversos artistas. Era o projeto Noites Cariocas, idealizado pelo jornalista e produtor Nélson Motta, que foi sucesso de público nas noites de sexta e sábado no lugar durantes anos. Dali o morro descobriu também sua vocação para receber eventos. Hoje, diversas festas e encontros empresariais são realizados à noite, no anfiteatro construído no local.