Vivemos numa época em que temos muitos autores, mas poucos escritores.
Março 2, 2012 por casadecamilo

Estão agora na moda os escribas que escrevem para o mercado, cujos livros denotam muito Dan Brown, muito diálogo, muitas peripécias e infindáveis frivolidades sentimentais e (tele)novelescas…
O comércio livresco português está hoje pejado de literatura light e atulhado de publicações de auto-ajuda, diários, gastronomias, (foto)biografias para todos os géneros e feitios e muitas outras excitações editoriais….
Oscar Wilde dividia os livros em três grandes categorias: “os que se devem ler, os que se devem reler e os que de todo se não devem ler”. Nesta última categoria, e fazendo uma transposição para os nossos conturbados dias, eu incluiria Margarida Rebelo Pinto, Maria João Lopo de Carvalho, José Rodrigues dos Santos (autor de vários trambolhos), Rodrigo Guedes de Carvalho, Júlio Magalhães, Pedro Pinto e demais pivots televisivos.
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Quem enriquece a literatura portuguesa são aqueles que assumiram a escrita enquanto ferramenta estética. Mas há outros escritores que conheceram êxitos editoriais e de quem hoje ninguém fala, já que caíram no maior esquecimento: Gomes Leal (1848-1921), Manuel da Silva Gaio (1860-1934), Carlos Malheiro Dias (1875-1941), Afonso Lopes Vieira (1876-1946), Júlio Dantas (1876-1962), Joaquim Paço d´Arcos (1908-1979), Odette de Saint-Maurice (1918-1993), entre tantos outros aclamados.
Por conseguinte, que se cuidem aqueles escribas da nova geração que gozam actualmente da maior cobertura mediática: José Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares, Jacinto Lucas Pires, João Tordo e quejandos. O tempo dirá se daqui a algumas décadas alguém se lembrará deles…
A literatura é uma forma de arte. Aprendamos com os nossos clássicos: de Camões a Almeida Garrett, passando pelo Padre António Vieira; de Camilo Castelo Branco a Eça de Queiroz e ao genial Fernando Pessoa. Quem enriquece a literatura portuguesa são aqueles que assumiram a escrita enquanto ferramenta estética: Aquilino Ribeiro, Raul Brandão, Ferreira de Castro, José Régio, Alves Redol, Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Soeiro Pereira Gomes, José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, Assis Esperança, Vitorino Nemésio, Miguel Torga, Fernando Namora, Augusto Abelaira, Vergílio Ferreira, José Cardoso Pires, David Mourão Ferreira, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner, José Martins Garcia, Dias de Melo, José Saramago, entre outros. Dos vivos tenho uma (já publicada) lista de largas dezenas de nomes que por falta de espaço não posso aqui incluir.
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Ontem como hoje, os bons livros escasseiam, os maus abundam. Que se cuidem, pois, aqueles que escrevem livros de fácil, rápida e larga difusão.
Victor Rui Dores