PORTUCÁLIA

Março 09 2012

Desidério Murcho Universidade Federal de Ouro Preto

 

Uma das palavras mágicas que me escapou, e que cada vez é mais usada de modo deplorável é “comunidade”. Há uns anos, havia, por exemplo, filósofos, poetas e taxistas. Hoje, há a comunidade dos filósofos, a comunidade dos poetas e a comunidade dos taxistas. A palavra “comunidade” entrou no vocabulário contemporâneo sem que as pessoas se tenham apercebido de tal, violando o seu significado original a tal ponto que hoje nada quer literalmente dizer: mas indica, e de que maneira, como o pensamento contemporâneo politicamente correcto mais opressor ganhou cidadania onde nunca deveria ter tido permissão para entrar. O problema do pensamento politicamente correcto, ou da sua falta, é não distinguir entre a higiene verbal que elimina insultos e trai preconceitos — no modo como denominamos alguns grupos sociais, no uso do pronome masculino para falar de qualquer pessoa ou, a minha preferida, no uso do termo “homem” para falar da humanidade — e a histeria verbal que, além de irrelevante politicamente, provoca dissonâncias cognitivas desnecessárias. Uma comunidade, falando correctamente, é um conjunto de pessoas ligadas por laços profundos de ideias e práticas, partilhando uma visão do mundo e muitas vezes um território. O que isto significa é que não basta um grupo desagregado de pessoas que partilham apenas uma profissão — e muitas vezes, com o mínimo de diálogo possível — para estarmos perante uma comunidade. A comunidade dos médicos, dos poetas, dos filósofos ou dos taxistas é uma fantasia. Na melhor das hipóteses, há várias comunidades diferentes de pessoas que são médicas, poetas, filósofas ou taxistas. É o novo racismo contemporâneo: toda a gente tem de pertencer a uma raça, perdão, comunidade. Quando fui viver para Londres, uma das coisas desagradáveis foi ter de considerar pela primeira vez na minha vida a que raio de raça, perdão, etnia, eu pertencia. Tal coisa nunca me passou pela cabeça, pela razão óbvia de que não tenho coisa alguma a ver com a raça, perdão, etnia, a que supostamente pertenço. Eu sou eu e estou-me nas tintas para a minha origem étnica. E o estado devia estar-se também nas tintas para isso. Não que eu queira proibir as pessoas de se identificar com a sua etnia — também não quero proibir as pessoas de se identificarem com a sua equipa de futebol, o seu partido político ou a sua religião. Mas a verdade é que na sociedade contemporânea há muitas pessoas que não se identificam com essas coisas: que consideram o espírito comunitário algo que está perfeitamente bem para quem gosta disso, mas nós não gostamos, muito obrigado. É como a salada de alface: há quem goste, e há quem não goste. Teremos agora todos de comer salada de alface, gostemos ou não? O que há de sinistro nesta visão da sociedade é a ignorância histórica: as muitíssimas pessoas profundamente oprimidas ao longo de séculos só porque eram diferentes do que as suas comunidades esperavam delas, e não encontravam no seio das suas supostas comunidades senão preconceito, maus olhares, discriminação e insultos, velados ou não. Imagine-se um jovem homossexual numa cidade pequena e retrógrada, ou um jovem interessado em ler e estudar num bairro de pescadores habituados a ver os filhos trabalhar desde os nove anos, ou uma mulher com uma vida sexual exuberante numa cidade conservadora e profundamente católica. Faz-me impressão que se tenha esquecido a história da opressão social, nesta sociedade politicamente correcta em que a pertença a uma comunidade qualquer se tornou obrigatória. Bem sei que o comunitarista tem uma resposta à minha parca lição de história. Mas essa resposta nada faz senão juntar o insulto à injúria. A sua resposta é que o problema da mulher de saudável sexualidade exuberante era o seu isolamento comunitário: o que ela precisava era de pertencer a uma comunidade de mulheres como ela. Esta visão das coisas é assustadora, pois recusa-se a ver as pessoas como elas são, insistindo que sejam como não querem ser. Uma pessoa que gosta de azul numa terra onde toda a gente odeia o azul terá certamente interesse em conhecer outras pessoas que gostam de azul — mas daí a querer constituir com elas uma comunidade vai uma imensa distância; a distância da liberdade e da independência de espírito. Parafraseando Orwell, descemos a um ponto tal, que dizer o óbvio torna-se um imperativo; e neste caso o óbvio é que muitos poetas, por mais que gostem de conhecer outros poetas, não querem pertencer a uma comunidade de poetas, porque não querem pertencer a comunidade alguma, ponto final. Que a insistência em juntar as pessoas em magotes — perdão, comunidades — é um insulto torna-se óbvio se usarmos a nossa imaginação: eu sou negro e entro com a minha mulher num restaurante onde há saudavelmente pessoas de várias cores. Mas o criado, solícito, discípulo de Michael Walzer, e um comunitarista simpático, diz-me: “o senhor poderá querer sentar-se naquele canto, onde estão várias outras pessoas da sua etnia, para se sentir integrado na sua comunidade”. Deveria ser óbvio que isto é o nosso racismo de hoje. Assim, o comunitarista erra crucialmente, e é insultuoso, porque não entende que uma pessoa pode querer apenas ser tratada com a dignidade, respeito e simpatia que todos merecemos — e com total indiferença às suas opções sexuais, religiosas, filosóficas, artísticas ou profissionais, assim como à sua origem biológica ou social. Uma pessoa pode não querer de modo algum pertencer a uma comunidade de poetas só por ser poeta; pode preferir pertencer a uma comunidade de industriais, ou a nenhuma. E é insultuoso, e opressor, insistir que o único problema de quem é oprimido pelo preconceito social que o rodeia é faltar-lhe a inserção na comunidade certa. Apresso-me a desfazer um equívoco, pois alguns leitores poderão pensar que este é um manifesto contra quem gosta de pertencer à comunidade disto ou daquilo. Mas se entendeu isso, enganou-se. O que penso é que tanto os comunitaristas, com a sua ênfase na inserção comunitária, como os liberais, com a sua defesa da independência de cada pessoa, cometem o mesmo erro: pensam que todas as pessoas são como eles mesmos. O comunitarista pensa que toda a gente precisa de comunidades para se realizar, porque ele é assim; o liberal pensa que toda a gente precisa da independência das comunidades, porque ele é assim. Mas a verdade é que diferentes pessoas vivem de diferentes maneiras e precisam de diferentes interacções sociais. Algumas pessoas não se sentiriam realizadas e felizes se não estivessem integradas numa comunidade qualquer — da equipa de futebol à religião, passando pelo partido político e pela origem étnica. Mas outras não se sentiriam realizadas e felizes se fossem obrigadas a estar integradas numa comunidade, seja ela qual for, incluindo a das pessoas que têm a mesma profissão que elas. As pessoas são diferentes umas das outras. O que para umas é o paraíso da identidade, para outras é a opressão do rótulo; o que para umas é o insulto de não serem reconhecidas como membros de dada comunidade, para outras é o paraíso porque se estão nas tintas para esses aspectos da sua própria vida. Parece-me que teríamos uma sociedade mais saudável se as pessoas dos dois géneros se sentissem igualmente bem, nenhuma delas sendo obrigada a integrar-se em comunidades, nenhuma delas sendo obrigada a não se integrar em comunidades. Posto isto, não sei bem o que pensará a comunidade dos leitores da Crítica. Desidério Murcho desiderio@ifac.ufop.br

publicado por portucalia às 21:30

Março 09 2012
Machines work in the demolition of the house in Abbottabad (26/2)
Osama Bin Laden, senile and away from Al Qaeda, was handed over to the Americansby one of his first wife, who was jealous of a younger rival in the house they lived in,according to the thesis of a Pakistani general assembled after a long investigation .
Ten months later, the incursion of a U.S. elite commando that killed the head of Al Qaeda in its peaceful refuge in the Pakistani city of Abbottabad is still a mystery that feedsnumerous theories, including the betrayal of jealousy.

Controversy: Body of Bin Laden has not been thrown overboardWikiLeaks reveals
publicado por portucalia às 17:16

Março 09 2012

Conheça  Campos do Jordão  com  a turma do SESC  saíndo dia  24 de maio  até o dia  27.  Estadia na Pousada do Alto DOuro, meia pensão, ao preço de  710 reais à vista .  Não perca esta  oportunidade.  Viajar  com o SESC  sempre foi uma boa. 

publicado por portucalia às 14:32

Março 09 2012

Sexta-feira, dia 09 de Março de 2012

Sexta-feira da 2ª semana da Quaresma


Santo do dia : S. Domingos Sávio, jovem religioso, +1857,  Santa Francisca Romana, viúva, +1440 

Ver comentário em baixo, ou carregando aqui 
São Máximo de Turim : Dar fruto 

Evangelho segundo S. Mateus 21,33-43.45-46.

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Escutai outra parábola: Um chefe de família plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, construiu uma torre, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se para longe. 
Quando chegou a época das vindimas, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os frutos que lhe pertenciam. 
Os vinhateiros, porém, apoderaram-se dos servos, bateram num, mataram outro e apedrejaram o terceiro. 
Tornou a mandar outros servos, mais numerosos do que os primeiros, e trataram-nos da mesma forma. 
Finalmente, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: 'Hão-de respeitar o meu filho.’ 
Mas os vinhateiros, vendo o filho, disseram entre si: 'Este é o herdeiro. Matemo-lo e ficaremos com a sua herança.’ 
E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. 
Ora bem, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?» 
Eles responderam-lhe: «Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida.» 
Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos? 
Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos. 
Os sumos sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as suas parábolas, compreenderam que eram eles os visados. 
Embora procurassem meio de o prender, temeram o povo, que o considerava profeta. 



Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos - www.capuchinhos.org 



Comentário ao Evangelho do dia feito por : 

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo 
Sermão para festa de São Cipriano; CC Sermão 11, p.38; PL 57, 687 

Dar fruto

«A vinha do Senhor do universo, diz o profeta, é a casa de Israel» (Is 5,7). Ora, tal casa somos nós [...] e como nós somos Israel, somos a vinha. Zelemos pois por que não nos nasçam dos sarmentos, em vez de uvas de doçura, uvas de ira (Ap 14, 19), para que não nos digam [...]: «Porque é que, esperando Eu que desse boas uvas, apenas produziu agraços?» (Is 5,4). Terra ingrata! Ela, que deveria oferecer a seu dono frutos de doçura, trespassou-o com agudos espinhos. De igual forma os Seus inimigos, que deveriam ter acolhido o Salvador com toda a devoção da sua fé, coroaram-n'O com os espinhos da Paixão. Para eles essa coroa significava ultraje e injúria, mas aos olhos do Senhor, era a coroa das virtudes. [...]

Tende cautela, irmãos, para que não seja dito acerca dessa terra que vós sois: «Esperou que lhe desse boas uvas, mas ela só produziu agraços» (Is 5,2) [...]. Tenhamos cautela, para que as nossas más acções não firam, quais espinhos, a cabeça do Senhor. Foram os espinhos do coração que feriram a palavra de Deus, como diz o Senhor no evangelho quando conta que o grão do semeador caiu entre os espinhos, e que estes cresceram e sufocaram o que tinha sido semeado (Mt 13,7). [...] Velai portanto para que a vossa vinha não dê espinhos em vez de uvas; para que a vossa vindima não produza vinagre em vez de vinho. Todo aquele que faz vindima sem dela dar aos pobres recolhe vinagre e não vinho; e aquele que enceleira as suas colheitas de trigo sem delas distribuir aos indigentes, não é o fruto da esmola que põe de reserva, mas os cardos da avareza.

publicado por portucalia às 14:28

Março 09 2012

 Coca Cola e a Pepsi vão alterar a receita das bebidas após ter sido detetado um componente potencialmente cancerígeno. Segundo a agência «Reuters», testes feitos a pedido de um instituto de defesa do consumidor norte-americano, mostram que os refrigerantes das duas marcas, tanto na versão normal como diet ou light, contêm níveis elevados 4-metilimidazol (4-MI), um produto usado para dar a cor caramelo características das bebidas. Estudos anteriores realizados em animais demonstraram que esta substância por causar cancro.
As análises químicas agora efetuadas detetaram valores de 145 a 153 microgramas de 4-MI em duas latas de 350 mililitros de Pepsi e entre 142 e 146 microgramas em duas latas de Coca-Cola. Segundo a lei da Califórnia, os produtos que contenham quantidades acima de 29 microgramas de de 4-MI têm que ser rotuladas com um aviso de que podem aumentar o risco de cancro.
Em resposta a este estudo, a American Beverage Association, que representa a indústria de bebidas americana, emitiu um comunicado afirmando que «a ciência não mostra que o 4-MI em bebidas ou alimentos representa uma ameaça à saúde humana».
O porta-voz da FDA (agência de segurança alimentar norte-americana), Douglas Karas, afirmou que a agência está a analisar os pedidos da associação de defesa do consumidor, mas frisa que «é importante entender que uma pessoa precisaria de milhares de latas de refrigerante diariamente para atingir o número de doses equivalentes às administradas em estudos que mostraram relação com o cancro em ratos de laboratório».

Mesmo assim, e por via das dúvidas, a Pepsi já disse que vai alterar a quantidade de corante caramelo nos refrigerantes. 

publicado por portucalia às 00:11

PORTUCÁLIA é um blog que demonstra para os nossos irmãos portugueses como o governo brasileiro é corrupto. Não se iludam com o sr. Lula.Textos literários e até poesia serão buscados em vários autores.
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