Parecia uma bola de neve, e logo que chegou ao seu novo lar começou a explorar, cheirando aqui e ali. Qual seria o seu nome? Isto não foi problema para minha mulher. Ela, mineira de quatro costados, sentenciou: “O nome dele vai ser UAI”. Foi desta forma que o UAI entrou em nossas vidas como, tenho certeza, outros cães entraram na vida de muitos dos meus leitores. O UAI é um grande companheiro e eu diria que entende tudo aquilo que com ele falamos. O seu dia tem alguns momentos que são especiais. Como um cão bem educado ele não faz suas necessidades dentro de casa. De manhã, logo que levantamos, ele, que dorme numa área coberta, bate na porta de vidro como que dizendo “Está na hora de você me levar lá fora.” Mas ele é paciente. Espera que eu tome meu café, troque minha roupa, calce o tênis, para fazer o seu passeio matinal. Acho incrível que o UAI consiga reter urina por mais de dez horas. Mas ele consegue. Depois que abro o portão ele urina no primeiro poste que encontrar. Caminha com elegância, distinção e dignidade. De vez em quando olha para trás para ver se estou acompanhando-o. Se, por uma razão ou outra, eu paro; ele volta correndo como a me chamar. Aí então seguimos juntos. Além do ritual costumeiro de parar frente a todo poste que encontra, o UAI parece um beija-flor, pois vai cheirando flores e folhas em busca, provavelmente, do cheiro de outro cão ou da pista que deixou no dia anterior.
Ao longo do passeio ele acorda todos os cachorros do quarteirão e que estão nas garagens ou jardins das casas. Aprendeu logo que existem cães amigos e cães bravos. Quando um cão rosna de maneira diferente, e eu percebo que aquele é bravo, eu lhe digo “UAI, cão bravo. Muito bravo!” Neste caso ele tem dois comportamentos que são uma grande afronta para aquele cão que não pode mordê-lo. Primeiro, ele corre ao longo de toda a grade,indo e voltando, fazendo com que o outro cão corra com ele. Depois de fazer isto várias vezes o UAI perpetra sua segunda vingança. Ele urina solenemente no portão ou defeca.
Quando o cão é amigo, o comportamento é outro. Eles se aproximam, e, mesmo através da grade, eles se cheiram. Cheiram o focinho e cheiram outras partes do corpo que vocês bem sabem quais são.
Em casa ele vive me acompanhando. Minha muUAI lher diz que é a minha sombra. Quando me vê trabalhando no computador, ele costuma chegar com um sapatinho de borracha que coloca no meu colo. Quer brincar. Se jogar o sapatinho pela janela ele vai correndo buscá-lo e o coloca novamente no meu colo. Mas quando não estou disposto a brincar, o UAI entende e fica, enroladinho, debaixo da mesa do computador e próximo aos meus pés.
Como a maioria dos cães ele não gosta de gatos. Uma vizinha tem um gato preto que fazia incursões na nossa casa e que era tão atrevido que até entrava na cozinha em busca de comida. Depois da chegada do UAI o gato se escafedeu.
Finalmente, ele aprendeu que precisa nos defender e defender seu território. Quando saímos, ele vai para a garagem e ali permanece vigilante até chegarmos. Aprendeu a reconhecer o barulho do motor do meu carro e fica colado ao portão. Logo que o portão é aberto ele vem correndo para entrar no carro e nos saudar com grandes lambidas. O UAI veio movimentar e alegrar o nosso dia a dia, e, gratuitamente, nos dá muito amor em troca de muito pouco.
(*) Antonio Ribeiro de Almeida é autor de “Contos do Entardecer”