PORTUCÁLIA

Janeiro 30 2012

Contra a corrupção

Antônio Ribeiro de Almeida

A Imprensa e o Dever da Verdade, de Rui Barbosa
Prefácio de Freitas Nobre, 3.a edição revista e atualizada
Editora da Universidade de São Paulo, 1990, 80 pp.

"A verdade antes de tudo, senhores" — isto é o que pedia Rui Barbosa na conferência "A Imprensa e o Dever da Verdade" publicada pela Universidade de São Paulo. Esse texto se deve a uma feliz iniciativa de Freitas Nobre, professor do Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicação e Artes — ECA — onde funciona o Curso de Jornalismo. Suponho que deve ser uma das leituras programadas pelos professores no trabalho de formação da consciência dos seus alunos, futuros jornalistas.

Lendo-a, constatei que não existe grande diferença entre os vícios que cerceavam a imprensa na Primeira República e os que continuam a limitá-la neste final de século. Rui nunca chegou a pronunciar esta conferência de viva voz. Já estava muito doente naquele ano de 1920 que também marcaria o aparecimento de outro ensaio antológico do mestre baiano, a sua famosa "Oração aos Moços".

Mas o que buscava Rui com aquela conferência dirigida aos jornalistas? Freitas Nobre escreve que o objetivo principal era o de atacar a corrupção que dominava a imprensa e fazer um chamamento aos princípios éticos que devem sempre nortear a vida do jornalista. Não é demais lembrar que Rui era jornalista também, e que muito se orgulhava dessa profissão. Por isto, fundamentado na sua longa experiência de articulista do jornal A Imprensa (vide Obras Completas, vol. 27), Rui não cessaria de lutar pela independência do jornalismo frente ao Governo Federal e outros poderosos. Por isto, escreve que para o jornalista o princípio fundamental, e do qual não pode abrir mão, é o que chama de "amor da verdade". A verdade caríssima deve estar acima do amor da pátria e do amor da liberdade e, hoje, das razões de Estado. Escreve por isso o seguinte:

Cara nos é a pátria, a liberdade mais cara; mas a verdade mais cara que tudo. Damos a vida pela pátria. Deixamos a pátria pela liberdade. Mas pátria e liberdade renunciamos pela verdade. (pág. 58)

E como anda, nos dias de hoje , o respeito à verdade na imprensa brasileira? Parece, infelizmente, que não é lá grande coisa, sobretudo na chamada "grande mídia". Em revistas semanais, são incontáveis os episódios em que jornalistas forjam dados na ânsia de ganharem notoriedade. E depois passam a responder na Justiça pelos crimes de calunia e difamação.

Como na Primeira República, a corrupção continua sendo a grande inimiga da verdade. Quantas e quantas vezes na história do nosso jornalismo o dinheiro grosso calou as redações que poderiam denunciar um fato escabroso que apontava uma figura política de projeção ou a prática criminosa de uma grande indústria? No seu tempo, com grande destemor, Rui chegou a denunciar o nosso primeiro Presidente da República, o Marechal Deodoro da Fonseca, como um corrupto ao usar o Banco do Brasil para colocar no bolso de certa redação a vultuosa quantia de 200 contos de réis. E, de lá para cá, aquele banco oficial sempre foi pressionado pelos governantes para liberar empréstimos generosos que nunca foram pagos. Nos anos 50 eram contumazes clientes, que nunca pagavam os empréstimos, jornalistas como Assis de Chateaubriand e Samuel Weiner, proprietários de duas grandes redes de jornais e televisão e que influenciavam poderosamente na opinião pública.

Em contraposição a este quadro, a imprensa, quando é livre, imparcial e objetiva é, segundo Rui,

... a vista da Nação... que enxerga, o que malfazem; devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam e roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam.

Exemplos deste papel temos, no passado, no jornal londrino Times e, recentemente, nos Estados Unidos, no Washington Post. O jornal inglês salvou praticamente o Exército na Guerra da Criméia quando denunciou, em 1854, que a administração militar era corrupta e péssima. Neste século, oWashington Post colocou o Presidente Richard Nixon no olho da rua quando descobriu a espionagem eleitoral no famoso caso de Watergate. No Brasil, temos também alguns exemplos de independência quando nos anos de 1953 e 1954 o jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, mostrou o famoso mar de lama que corria nos porões do Catete. O resultado disto foi o suicídio de Vargas a 24 de Agosto de 1954.

Finalmente, mais perto de nós, a imprensa teve um papel definitivo para extinguir a Ditadura de 1964 e no "impeachment" do Presidente Fernando Collor. Muitos jornalistas pagaram, e continuam a pagar, com a própria vida, a coragem de suas denúncias e o compromisso com a Verdade. Mas eles não têm e nunca terão outra alternativa se o dever da verdade está acima de tudo. Por isto, o jornalismo não é uma profissão para Sanchos que ouvem mais as razões do estômago do que o ideal que deve impulsioná-los. Para mim, em cada jornalista que merece este nome, sempre habitará o espírito de Dom Quixote à espera de uma "nueva salida", ainda que seja contra moinhos de vento.

publicado por portucalia às 18:37

Janeiro 28 2012

 

Antonio Ribeiro de Almeida (*)

 

Em fevereiro, nos dias 19,20 e 21 deste 2012,   o Carnaval estará de novo na vida do  brasileiro.  Mas o Carnaval de hoje é muito diferente dos carnavais  do século XX até os anos 50.  Antes de mostrar estas “diferenças”  comento  como as palavras têm um destino curioso.  Veja-se, primeiro, a etimologia da palavra “ carnaval” e como ela passou a significar o contrário do que  significa.  E, depois, ouso batizar, com licença dos etimólogos, que o carnaval  de hoje não passa de uma “bundalatria”.  Segundo o nosso Aurélio  a palavra “carnaval”  vem do latim “Carmem laxare” ou abster-se de carne enquanto o neologismo “ bundalatria”  vem de “bunda,do banto, a região das nádegas e latria , do latim, adoração”.  A televisão está sempre fazendo tomadas das mulheres que mostram em movimentos lascivos as suas bundas.  Os homens, demonstrando uma fixação anal- Freud explica -  agarram com os seus olhares as mulheres que mostram as bundas mais exuberantes.  A coisa chegou a tal ponto que o “rapper” Diddy, que esteve no Brasil em 2009 quando perguntado por um jornalista que recordações levava do Brasil, respondeu :  “ Brasil ?  Bundas, bundas e mais bundas” Quem mandou ele perguntar ? 

Os carnavais do passado não eram pornográficos e  traziam mensagens de crítica social, beleza e ironia.  Eram os carnavais dos pierrôs e das colombinas que jogavam serpentinas, confetes e alvejavam os foliões com o lança perfume da marca Rhodo. Mostro algumas pérolas cantadas nos blocos e nos salões.  Noel Rosa veio na década dos 30 cantando “ Com que roupa ?  Com que roupa eu vou ao samba que você me convidou.  “ É a lamentação de um rapaz pobre convidado por uma moça rica.  Já em 1938, Ciro de Sousa e Babaú compõem um samba que o DOPS consideraria subversivo. “ Trabalho, não tenho nada.  Não saio do miserê...Tenho feito força pra viver honestamente.  A década dos 40 é marcada por uma problemática social muito intensa.  Músicas como “ O trem atrasou”, de Vilarinho e Paquito e o “ Pedreiro Valdemar” demonstram o conflito das classes sociais.  Vejam esta letra “  Patrão, o trem atrasou.  Por isso estou chegando agora. Trago aqui memorando da Central.  O trem atrasou meia hora. O senhor não tem razão para me mandar embora.  O senhor tenha paciência, é preciso compreender. Sempre fui obediente, reconheço meu dever.  Um atraso é muito justo quando há explicação. Sou um chefe de família, preciso ganhar o pão.  Não me diga não.  “

Finalmente, os anos 50 revelam uma tomada de consciência social e de revolta contra o sistema.  Paquito e Gentil compõem “ Daqui não saio, daqui ninguém me tira, onde é que eu vou morar ?  “  É o grito dos sem teto

Hoje, o Carnaval passou a ser uma época de estupros, assassinatos, uso desvairado de drogas, desastres com mortes nas estradas.  Tudo isto é mostrado como um sinal de “liberação, modernidade”.  Os brasileiros das classes altas buscam refúgio nas fazendas, em outros países ou vendo filmes que alugam  nas locadoras.  Quem dera que eu pudesse voltar o ponteiro do tempo.  Convocaria Chiquinha Gonzaga e seu piano e pediria que cantasse “ Oh, abre Alas”  Ela e Lamartine de Babo cantariam suas marchinhas imortais e ensinariam às gerações de hoje a alegria pura, simples e bela dos carnavais de antigamente. 

 

(*) Doutor em Psicologia Social e professor aposentado da USP - campus de Ribeirão Preto, e-mail ribercor33@hotmail.com  

publicado por portucalia às 17:59

PORTUCÁLIA é um blog que demonstra para os nossos irmãos portugueses como o governo brasileiro é corrupto. Não se iludam com o sr. Lula.Textos literários e até poesia serão buscados em vários autores.
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